domingo, 15 de maio de 2011

Em uma Tarde de Outono



Este é um momento especial para mim. Inicio uma caminhada e a passos lentos penetro neste ambiente de rara beleza e encantamento, mas de visões antagônicas onde reencontro-me com fantasmas e recordações de experiências que marcaram minha vida e minha alma. Foi aqui, neste “mundo de luzes das tardes de outono”, que se confirmou uma antevisão através de um sonho em um passado distante.

 Retrocedo a esse passado, como se estivesse vivendo em um conto mágico e a cada passo que dou uma recordação rompe em meus pensamentos!... ...meu coração bate descompassado!... ...Sinto arrepios e a alma desprendendo-se do meu corpo!... ...Mesmo emudecido, grito, mas em vão, ninguém houve, pois minha voz não se propaga no vácuo do silêncio!... ...Tudo como se um ente tomasse conta do meu ser... Subitamente, percebo que se repete aquela misteriosa experiência vivida há tantos anos, e então, incapaz de resistir, me submeto a essa força indomável, aos meus fantasmas e às emoções...

Após essa viagem alucinante, como se num quadro, cinza triste, se jogasse cores, reencontro-me naquele belíssimo dia de outono fazendo meu passeio vespertino. O sol derramava seus raios. O céu, com seu azul profundo, límpido e sua generosidade Divina, permitia que se contemplasse o firmamento e eu percebia que Deus estava ali, ectoplasmando-se através daquela deslumbrante beleza...

Era a simbiose da natureza, permissiva, bálsamo para o corpo e para a alma, razão de eu ter escolhido as últimas horas das tardes do Outono para fazer minhas caminhadas. Era uma trilha formada por um longo corredor situado as margens de um Lago no qual se via cisnes que vogavam exibindo suas aparentes soberbas.

 Nas laterais desse corredor, ainda hoje, encontram-se frondosos Plátanos que, neste período do ano, deixam suas folhas exibirem um degradê nas cores que variam: do verde, no centro dos talos, passando pelos tons de laranja e vermelho, culminando no amarelo doirado, tonalidades acentuadas pelos raios do sol: os diretos que penetram pelo poente do corredor e os indiretos que, entrelaçando-se entre as folhas doiradas, refletem um esplendor divino!... 
  
 Para realçar ainda mais a beleza desse conjunto, acrescente-se que esses raios formam ângulos de desvio fazendo com que, ao penetrarem nas copas das árvores, seus feixes de luz criem um belíssimo efeito que realça os matizes das folhas, ainda não caídas e das que formam um tapete doirado no chão por onde, absorto em meus pensamentos contraditórios, caminhava naquele longínquo momento e onde me encontro agora, em mais uma tarde de outono de minha vida...
     

J. P. Fontoura.



PS. Trecho do Capítulo I de um Ensaio Literário intitulado: Onde um Sonho Pode nos levar. 

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