sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma Noite...

                                                               Noite gélida.
Sonâmbulo, só,
no escuro difuso,
pairo silente, ofegante,
junto à janela...
...a vidraça embaça!...
Da minh’alma,
os olhos e os ouvidos
contemplam e ouvem.
Da matéria? Nada!...
Que mundo é esse?...
De onde ouço risadas...
...gargalhadas...
De insanos murmúrios...
De volúpias de prazeres...
De orgias irreveláveis!...
De recônditos sofreres...
De onde ouço gemidos:
dos desvalidos,
dos esquecidos!...
São gemidos de fome 
De frio, muito frio...
De angústia, muita angústia...
De dor, muita dor, pelas
vidas que se esvaem.
De pais e filhos
que se apartam!...
Ouve-se ao longe...
...abafados suspiros,
entre primeiros e
últimos suspiros...
...daqueles que ficam;
daqueles que partem!...
Vidas extratestuais:
dos orçamentos,
dos meus textos,
das revistas,
dos jornais!...
Ainda na janela, acordo.
Volto ao meu mundo!
...a este mundo real...
...quero falar, dizer tudo...
...a voz... ...não digo...
...e a penúltima lágrima cai!

J. P. Fontoura.

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