Noite gélida.
Sonâmbulo, só,
no escuro difuso,
pairo silente, ofegante,
junto à janela...
...a vidraça embaça!...
Da minh’alma,
os olhos e os ouvidos
contemplam e ouvem.
Da matéria? Nada!...
Que mundo é esse?...
De onde ouço risadas...
...gargalhadas...
De insanos murmúrios...
De volúpias de prazeres...
De orgias irreveláveis!...
De recônditos sofreres...
De onde ouço gemidos:
dos desvalidos,
dos esquecidos!...
São gemidos de fome
De frio, muito frio...
De frio, muito frio...
De angústia, muita angústia...
De dor, muita dor, pelas
vidas que se esvaem.
De pais e filhos
que se apartam!...
Ouve-se ao longe...
...abafados suspiros,
entre primeiros e
últimos suspiros...
...daqueles que ficam;
daqueles que partem!...
Vidas extratestuais:
dos orçamentos,
dos meus textos,
das revistas,
dos jornais!...
Ainda na janela, acordo.
Volto ao meu mundo!
...a este mundo real...
...quero falar, dizer tudo...
...a voz... ...não digo...
...e a penúltima lágrima cai!
J. P. Fontoura.
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