terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Espantalho.

Ele tem tentado ser útil, mas em vão, pois não lhe ouvem!... Gritar pouco adianta, enfraqueceram suas cordas vocais, por isso só consegue murmurar muito baixinho, ao som do vento no passar do tempo, na esperança de que estes levem seu murmúrio, já enrouquecido,  à multidão mouca... Prenderam, também, seus braços para que não apontasse e suas pernas para que não andasse; encheram-lhe de palha e puseram-lhe “rotos trapos” para que aparentasse o que é... ...um espantalho... ...Mas na ânsia da maldade não lhe tiraram os sentimentos de lógica e razão através dos quais ele consegue perceber a realidade...

Nos últimos tempos ele tem estado apreensivo com o que acontece a sua volta: corvos invadiram o milharal e, mancomunados com ratazanas e um séquito de ratos miúdos, saqueiam, indiferentes à sua presença e isto lhe dói muito... ...se sente imprestável e incapaz de lhes dar um pontapé no traseiro...

Não pode gritar; não pode bater panela; não pode soltar rojão; não pode pintar a cara... ...que inútil está se sentindo... ...que droga!... ...Mas Povo é assim mesmo... ...Oh! Perdão, eu quis dizer que espantalho é assim mesmo!...


Delmar Fontoura 

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