Do: Site Terra.
Foto: Jonathan Heckler/Agência Freelancer/Especial para Terra
Se em Caxias do Sul, na serra gaúcha,
a livraria Do Arco da Velha precisou cancelar uma sessão de autógrafos com
Cesare Battisti devido a ameaças de vandalismo, Porto Alegre deve receber nesta
sexta-feira, pela segunda noite consecutiva, o ativista italiano para o
lançamento do livro Ao pé do muro, que ele escreveu enquanto esteve preso em
Brasília.
No início desta tarde, Battisti podia
ser visto no centro da capital gaúcha, onde foi almoçar com amigos no segundo
patamar do Mercado Público. Com morada fixa no Rio de Janeiro, Battisti tem
visitado com frequência o Estado governado por Tarso Genro (PT), ministro da
Justiça que lhe ofereceu asilo político contra pedidos de extradição baseados
em uma condenação à revelia por quatro assassinatos na década de 1970.
A meados do mês passado, a presença
do italiano foi festejada em Progresso, cidade habitada por grande quinhão de
imigrantes da família Battisti. Em janeiro, o ex-integrante do Proletários
Armados pelo Comunismo (PAC) visitou o Palácio Piratini, sede do Executivo
estadual, por ocasião do Fórum Social Temático.
O Battisti desta tarde, sabedor da
fama que arrasta consigo, recebia com um sorriso brando mesmo quem
interrompesse seu almoço para perguntar se, afinal, ele pretendia fazer de
Porto Alegre uma segunda casa. A resposta vinha em um "quem sabe"
gesticulado. Poucos minutos distante de onde acontecia um debate entre os
candidatos a prefeito da cidade, ele negou qualquer participação nas eleições
municipais, por impedimento legal.
Preso no Rio em 2007 e detido em uma
penitenciária até 9 de junho de 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF)
referendou sua libertação, Battisti nem sempre logra ser livre para sorrisos
brandos em solo gaúcho. Inicialmente previsto para o sábado, o lançamento de
seu livro foi cancelado em Caxias do Sul, cidade-símbolo da colonização
italiana no Rio Grande do Sul, por força de "ameaças explícitas" à
livraria Do Arco da Velha.
"Essas manifestações de
violência se tornaram eticamente insuportáveis. (...) Consideramos a intolerância
um retrocesso no processo democrático, e lamentamos que o uso de agressões
violentas chegue ao ponto de nos levar a essa decisão. Manifestamos nosso
apreço aos que apoiaram o exercício da liberdade, independentemente de suas
convicções, e nossa estima pelas pessoas que se sentiram lesadas em nome da
liberdade de expressão", afirma nota divulgada pela livraria.
Na noite de ontem, Battisti
distribuiu autógrafos na Palavraria, e hoje estará no espaço cultural Meme
Santo de Casa, na rua Lopo Gonçalves, 176. Battisti também é autor de Ser bambu
e Minha fuga sem fim.
Ex-integrante da organização de
extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Cesare Battisti foi
condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por quatro assassinatos,
ocorridos no final da década de 1970. O italiano nega as acusações. Depois de
preso, Battisti, considerado um terrorista pelo governo da Itália, fugiu e se
refugiou na América Latina e na França, onde viveu exilado por mais de 10 anos,
sob proteção de uma decisão do governo de François Miterrand. Quando o
benefício foi cassado pelo então presidente Jacques Chirac, que determinou a
extradição de Battisti à Itália, o ex-ativista fugiu para o Brasil em 2004.
Encontrado, ele ficou preso no País a partir de 2007.
O então ministro da Justiça, Tarso
Genro, sob o argumento de "fundado temor de perseguição", garantiu ao
italiano o status de refugiado político, o que em tese poderia barrar o
processo de extradição que o governo da Itália havia encaminhado à Suprema
Corte brasileira. Ainda assim, o caso foi a julgamento no Supremo Tribunal
Federal (STF) no final de 2009, quando os magistrados decidiram que o italiano
deveria ser enviado a seu país de origem, mas teria de cumprir pena máxima de
30 anos de reclusão, e não prisão perpétua como definido pelo governo da
Itália. Na mesma decisão, no entanto, os ministros definiram que cabia ao
presidente da República a decisão final de extraditar ou confirmar o refúgio a
Battisti.
No dia 31 de dezembro de 2010, último
dia de seu governo, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não
extraditar Battisti à Itália, com base em parecer da Advocacia-Geral da União
(AGU) que levantava suspeitas de que a ida do ex-ativista a seu país de origem
poderia colocar em risco a sua vida. Segundo o documento, a repercussão do caso
e o clamor popular tornariam o futuro de Battisti "incerto e de muita
dificuldade" na Itália.
Três dias depois da decisão de Lula,
a defesa de Battisti entrou com um pedido de soltura no STF, mas o governo
italiano pediu ao Supremo o indeferimento da petição alegando "absoluta
falta de apoio legal". Na ocasião, o presidente do STF, Cezar Peluso,
negou a libertação imediata e determinou que os autos fossem encaminhados ao
relator do caso, ministro Gilmar Mendes. No dia 3 de fevereiro, o governo
italiano encaminhou STF um pedido de anulação da decisão de Lula, acusando-o de
não cumprir tratados bilaterais entre os dois países.
Os recursos foram julgados no dia 8
de junho de 2011. Primeiro, O plenário decidiu que o governo da Itália não
tinha legitimidade para contestar a decisão de Lula. Em seguida, o STF
determinou a liberdade imediata do italiano por entender que não cabe ao
Supremo contestar a decisão "soberana" de um presidente da República.
Com o fim da sessão, o alvará de soltura de Battisti foi encaminhado para a
penitenciária da Papuda, em Brasília, de onde ele saiu nos primeiros minutos do
dia 9 de junho, após quatro anos preso.
PS.: A notícia está escondida, no Site do Terra, com pouco destaque para não ser percebida...
O editor encontra Cesare Battisti, que o interpela: "O senhor é o jornalista de ética própria ?!"
ResponderExcluirO editor encontra Cesare Battisti, que o interpela: "O senhor é o jornalista de ética própria ?!"
O ex-terrorista e assassino italiano Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália e refugiado no Brasil por iniciativa do atual governador Tarso Genro (Tarso era ministro da Justiça quando concedeu abrigo a um dos homens mais procurados pela Interpol), passou por Porto Alegre neste sábado e dirigiu-se imediatamente para Caxias do Sul, onde manteve reunião com escasso grupo de ativistas e simpatizantes da esquerda gaúcha, a pretexto de autografar um dos seus livros.Cesare Battisti era dirigente do movimento Proletários Armados pelo Comunismo, o PAC. Ele assassinou quatro pessoas que nem militância política tinham.
. A Livraria Arco da Velha, onde sairia a sessão de autógrafos deste sábado, suspendeu o evento na sexta-feira, depois de ter recebido ameaças, mas os promotores da viagem buscaram outro local e não fizeram divulgação pública. Em Caxias, pouca gente sabe da visita.
. O editor saía do carro no bairro Santa Cecília, Porto Alegre, quando encontrou o carro Honda, prata, que conduzia Battisti, estacionado num supermercado, em companhia de dois homens e uma mulher, a motorista. Ele saiu do veículo, dirigiu-se ao editor e teve início uma áspera troca de palavras:
- Então, você é que é o jornalista que tem sua ética própria para tratar de política?
. Achei surpreendente a decisão de Battisti de me interpelar e querer discutir ética comigo:
- A minha ética não é a sua ética (a ética do bandido), conforme já ficou provado nas suas sentenças de condenação.
. O italiano é frio, calculista e impassível. Ele não se alterou uma única vez e nem demonstrou nervosismo, não elevou a voz e nem fez gestos bruscos. Foi tudo na medida. A conversa foi muito curta, áspera, mas sem troca de insultos, tudo quanto permite um encontro inesperado deste tipo. Foi toda ela presenciada também pelo jornalista Olides Canton, que fotografou o encontro, e vigiada de perto por seguranças que protegiam o italiano.
- Cesare Battisti, cujo benfeitor brasileiro é o governador do RS, Tarso Genro, tem feito viagens frequentes ao Estado, sempre mantendo atividades políticas, sob a falsa alegação de "atividade cultural". Battisti é ex-terrorista e assassino, foi condenado à prisão perpétua na Itália e encontrou refúgio no Brasil. Se sair daqui, será preso e deportado para Roma.
Postado por Polibio Braga, em 30.07.2012, no Blog do Jornalista Polibio Braga.