História Mal Contada e Muito Mal Entendida!...
Zé Papudo era uma figura controvertido na vila
onde morava. Surgido sabe-se lá de onde, mas muito admirado e curioso pelas
histórias estranhas que contava: umas mentirosas outras nem tanto, mas ninguém
se atrevia confirmar ou não a veracidade das mesmas, tendo em vista os
trejeitos e mímicas de matuto a seriedade misturados à astúcia e matreirismo,
que imprime a seus causos, dando pouca chance para que se conclua algo, sem contar que dia sim e o outro também toma
umas-que-outras, fato que o torna mais estranho e ao mesmo tempo hilariante...
No dia desse causo Zé tinha tomado “umas" e
tava na ponta dos cascos, mas o pessoal da Vila já conhecia bem o bisca, e,
pelo que o apelido sugeria, imaginem o que vinha pela frente. Foi então que ele
começou falar, dizendo a seu Manual, dono do buteco:
– Hoje acordei com fogo nas ventas... ...Vou contá
pra voceis: Já de manhãzinha, bem cedinho, fui lá no Beco da Maria da Pensão e,
conversa vai conversa vem, ela me disse:
– Zé, hoje tu pode sai com a Belinda...
– Eeeepa!... Exclamaram os que estavam no bar, mas,
o Zé Papudo não deu bola e continuou com sua história.
– Voceis sabem gente, com a idade que a Belinda
tem, até que ela tá bem jeitosa!
– Hui! o Zé não é disso!... – Disse o dono do bar, mas o Zé Papudo continuou...
– Entrei no Freje que a Maria tem lá num canto da
Pensão e tomei mais uma “batida de butiá com mel”, pra dá mais disposição,
depois garrei a Bicha e disse, é hoje que eu me espaio nesse baile!
– Ué, mas o Zé nem é de dança. Essa tal de Bicha
enfeitiçou este traste! –
Disse o dono do bar, já meio invocado, mas o Zé nem dava bola para o pessoal, que
ria fazendo troça dele, que continuava contando sua história.
– Pensei cá comigo, vou primeiro
amaciá a Bixinha, depois eu carco fundo.
Naquela altura todo mundo no bar tava abismado,
pois as más línguas, diziam, até, que o Zé Papudo "Abanava o Lenço".
– Sei lá, disse o dono do bar, não me meto nessa!
– Pensei cá comigo, vou tirá uma "lasca desta
costela hoje", vocês sabem, o veludo dela ta gostoso de aparpá. - Disse o
Zé.
– Ih!... Meu Deus!
O homem tá com a macaca hoje! – Exclamou Seu Mamnuel, mas Zé queria mesmo era contar seu feito...
– Ai, pensei vou lá no Tarumã, é,
isso mesmo, é mais perto.
Os arigós que estavam no buteco se retorciam
inquietos sem acreditar no que ouviam...
– Deve ser o Motel Tarumã que tem na Vila que este traste falou?
Mas o Zé tava tão eufórico, contando sua façanha,
que nem dava ouvidos à turma e continuou falando.
– Cheguei e fui falando para o
cara da portaria: hoje saí disposto a gastar... ...quanto é que custa pra da
umas com essa menina. Ai o cara se abaixou no balcão e ficou resmungando coisas
que eu não entendia, só ouvi ele falá:
– Será que ele vai conseguir
dar tantas... ...não vai não... ...se conseguir dar uma é muito com essa
baranga...
– Bom entendi baranga e não
ouvi mais nada. Depois o cara falou:
– Dê quantas o senhor puder,
depois pague na saída...
– Pensei um pouco e falei:
– Ta bom! Com essa guria vale
a pena eu gastar... ...é a primeira vez, sabe moço, eu topo e saí... ...em
seguida comecei me prepara: posicionei a guria, peguei a alavanca e...
– Ai meu Deus! O Zé vai conta
tudo!... Falou o dono do boteco assustado e a turma boquiaberta, sem saber o
que dizer, continuava ouvindo o Zé...
– Devo ter dado umas quatro ou
cinco... ...e foi interrompido:
– Pará ai Zé Papudo! Falaram a
turma e seu Manoel, dono do boteco, assustados...
– Tu ta mentindo Zé, ta certo
que tu és um cara novo ainda, mas dá quatro sem dá um tempo... ...respeita a
gente cara.
Zé deu um salto e extasiou em
pé com cara de enraivecido e falou esbravejando:
– Dá um tempo é o senhor e
estes trastes que estão estrebuchando de rir de mim... ...vocês estão duvidando
de mim, pois posso prová que fiz isso e o mecânico pode testemunhar, embora não
estivesse lá. É claro...
– Vem mais mentira. Murmuraram
todos.
– Olha o mecânico Gervasio ta
passando aí... ...Ó! Chega aqui Gervasio tu podes confirmar, pois foi tu que me
ensinou...
– Aí! Não é possível! Falou
baixinho o dono do boteco.
– Vem cá é verdade ou não?
Perguntou Zé ao mecânico:
– Tu não me orientaste como eu
deveria fazer com o Corcel Belinda da Maria pra dá umas esticadas no Autódromo
do Tarumã?... – Tastaviou com as palavras, mas enfim conseguiu pronunciar
certo.
– Não foi tu que disse que eu
tinha que “dá umas” vorta, divagarinho pra esquentá o motor... ...depois dá uma
paradinha na pista... ...pegá a “alavanca” de mudança, engata a primeira, dá
umas “quatro” ou “cinco” aceleradas para deixa a “guria” bem preparadinha,
depois larga e me diverti na pista?...
– Foi Zé. O que queres mais
que eu confirme. Disse por fim o mecânico.
Ao mesmo tempo alguns saíam de
mansinho ou sumiam atrás dos outros enquanto seu Manuel debruçava-se atrás do balcão
cabisbaixo...
– Nada mais Gervasio... ...tô
satisfeito, grátis...
Aí o Zé Papudo, cheio de razão, encheu o
peito, esbravejou ao seu Manuel e ao resto da turma:
– Então, como é que o senhor
me chama de mentiroso, como é que fica agora a sua cara e a fussa desses borra-bosta
que estavam rindo de mim? Tá provado ou não tá o que eu falei? Agora o senhor
serve, de grátis, uma “batida de butiá com mel” pra cada um de nóis tudo aqui,
que é pra vê se consegue encurta essa sua língua, ta bom!...
– Mas voceis precisam vê como
é boa essa BELINDA CORCEL I... ...Oigatê tchê
Bar da zona,
agosto de 2004.
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