quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Causo do Zé Papudo.


 
História Mal Contada e Muito Mal Entendida!... 
                          

     Zé Papudo era uma figura controvertido na vila onde morava. Surgido sabe-se lá de onde, mas muito admirado e curioso pelas histórias estranhas que contava: umas mentirosas outras nem tanto, mas ninguém se atrevia confirmar ou não a veracidade das mesmas, tendo em vista os trejeitos e mímicas de matuto a seriedade misturados à astúcia e matreirismo, que imprime a seus causos, dando pouca chance para que se conclua algo,  sem contar que dia sim e o outro também toma umas-que-outras, fato que o torna mais estranho e ao mesmo tempo hilariante...

     No dia desse causo Zé tinha tomado “umas" e tava na ponta dos cascos, mas o pessoal da Vila já conhecia bem o bisca, e, pelo que o apelido sugeria, imaginem o que vinha pela frente. Foi então que ele começou falar, dizendo a seu Manual, dono do buteco:  

     – Hoje acordei com fogo nas ventas... ...Vou contá pra voceis: Já de manhãzinha, bem cedinho, fui lá no Beco da Maria da Pensão e, conversa vai conversa vem, ela me disse:  

     – Zé, hoje tu pode sai com a Belinda... 

     – Eeeepa!... Exclamaram os que estavam no bar, mas, o Zé Papudo não deu bola e continuou com sua história. 

     – Voceis sabem gente, com a idade que a Belinda tem, até que ela tá bem jeitosa! 

     – Hui! o Zé não é disso!... Disse o dono do bar, mas o Zé Papudo continuou...  

     – Entrei no Freje que a Maria tem lá num canto da Pensão e tomei mais uma “batida de butiá com mel”, pra dá mais disposição, depois garrei a Bicha e disse, é hoje que eu me espaio nesse baile!  

     – Ué, mas o Zé nem é de dança. Essa tal de Bicha enfeitiçou este traste! Disse o dono do bar, já meio invocado, mas o Zé nem dava bola para o pessoal, que ria fazendo troça dele, que continuava contando sua história.  

     – Pensei cá comigo, vou primeiro amaciá a Bixinha, depois eu carco fundo. 
    
     Naquela altura todo mundo no bar tava abismado, pois as más línguas, diziam, até, que o Zé Papudo "Abanava o Lenço".  

     – Sei lá, disse o dono do bar, não me meto nessa!   

     – Pensei cá comigo, vou tirá uma "lasca desta costela hoje", vocês sabem, o veludo dela ta gostoso de aparpá. - Disse o Zé. 

     – Ih!... Meu Deus!  O homem tá com a macaca hoje! Exclamou Seu Mamnuel, mas Zé queria mesmo era contar seu feito...        

     – Ai, pensei vou lá no Tarumã, é, isso mesmo, é mais perto.  

     Os arigós que estavam no buteco se retorciam inquietos sem acreditar no que ouviam... 

     – Deve ser o Motel Tarumã que tem na Vila que este traste falou?   

     Mas o Zé tava tão eufórico, contando sua façanha, que nem dava ouvidos à turma e continuou falando.  

     – Cheguei e fui falando para o cara da portaria: hoje saí disposto a gastar... ...quanto é que custa pra da umas com essa menina. Ai o cara se abaixou no balcão e ficou resmungando coisas que eu não entendia, só ouvi ele falá:  

     – Será que ele vai conseguir dar tantas... ...não vai não... ...se conseguir dar uma é muito com essa baranga...   

     – Bom entendi baranga e não ouvi mais nada. Depois o cara falou:  

     – Dê quantas o senhor puder, depois pague na saída...  

     – Pensei um pouco e falei:  

     – Ta bom! Com essa guria vale a pena eu gastar... ...é a primeira vez, sabe moço, eu topo e saí... ...em seguida comecei me prepara: posicionei a guria, peguei a alavanca e...  

     – Ai meu Deus! O Zé vai conta tudo!... Falou o dono do boteco assustado e a turma boquiaberta, sem saber o que dizer, continuava ouvindo o Zé...  

     – Devo ter dado umas quatro ou cinco... ...e foi interrompido:  

– Pará ai Zé Papudo! Falaram a turma e seu Manoel, dono do boteco, assustados...   

     – Tu ta mentindo Zé, ta certo que tu és um cara novo ainda, mas dá quatro sem dá um tempo... ...respeita a gente cara.  

     Zé deu um salto e extasiou em pé com cara de enraivecido e falou esbravejando:  

     – Dá um tempo é o senhor e estes trastes que estão estrebuchando de rir de mim... ...vocês estão duvidando de mim, pois posso prová que fiz isso e o mecânico pode testemunhar, embora não estivesse lá. É claro... 

     – Vem mais mentira. Murmuraram todos.  

     – Olha o mecânico Gervasio ta passando aí... ...Ó! Chega aqui Gervasio tu podes confirmar, pois foi tu que me ensinou...  

     – Aí! Não é possível! Falou baixinho o dono do boteco. 

     – Vem cá é verdade ou não? Perguntou Zé ao mecânico:  

– Tu não me orientaste como eu deveria fazer com o Corcel Belinda da Maria pra dá umas esticadas no Autódromo do Tarumã?... – Tastaviou com as palavras, mas enfim conseguiu pronunciar certo.  

– Não foi tu que disse que eu tinha que “dá umas” vorta, divagarinho pra esquentá o motor... ...depois dá uma paradinha na pista... ...pegá a “alavanca” de mudança, engata a primeira, dá umas “quatro” ou “cinco” aceleradas para deixa a “guria” bem preparadinha, depois larga e me diverti na pista?...  

     – Foi Zé. O que queres mais que eu confirme. Disse por fim o mecânico.  

     Ao mesmo tempo alguns saíam de mansinho ou sumiam atrás dos outros enquanto seu Manuel debruçava-se atrás do balcão cabisbaixo...  

     – Nada mais Gervasio... ...tô satisfeito, grátis... 

       Aí o Zé Papudo, cheio de razão, encheu o peito, esbravejou ao seu Manuel e ao resto da turma:  

     – Então, como é que o senhor me chama de mentiroso, como é que fica agora a sua cara e a fussa desses borra-bosta que estavam rindo de mim? Tá provado ou não tá o que eu falei? Agora o senhor serve, de grátis, uma “batida de butiá com mel” pra cada um de nóis tudo aqui, que é pra vê se consegue encurta essa sua língua, ta bom!...

     – Mas voceis precisam vê como é boa essa BELINDA CORCEL I... ...Oigatê tchê
 
 

                                   Bar da zona, agosto de 2004.  

 

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