* Ensaio literário - Trecho de um Capítulo de "Onde um Sonho Pode nos Levar".
Hoje é um dia especial para mim. Inicio minha caminhada costumeira e a passos lentos
penetro neste ambiente de rara beleza e encantamento, mas de visões
antagônicas, através das quais me reencontro com fantasmas e recordações de
experiências que marcaram profundamente minha vida e minha alma. Aqui, neste
“mundo sob as luzes do outono”, se confirmou uma antevisão através de um sonho.
Retrocedo ao passado como se vivesse em um conto mágico e a cada passo que dou uma recordação rompe em meus
pensamentos!... Meu coração bate descompassado!... Sinto arrepios e minha alma
desprendendo-se do corpo!... Mesmo emudecido grito, mas em vão, ninguém
houve, pois minha voz não se propaga no silêncio... ...tudo como se um ente tomasse
conta do meu ser... ...Subitamente, percebo que se repete aquela misteriosa
experiência vivida há tantos anos, e então, incapaz de resistir, me submeto a
essa força indomável, aos meus fantasmas e às emoções...
Após essa
viagem alucinante, como se sobre um quadro cinza triste se derramasse cores,
reencontro-me naquele belíssimo dia de outono fazendo meu passeio vespertino. O
sol vazava seus raios de um céu, azul profundo, límpido e, com sua generosidade
Divina, permitia que se contemplasse o firmamento. Percebia-se que Deus estava
ali, ectoplasmado naquela deslumbrante beleza...
Era a
simbiose da natureza permissiva e um bálsamo para o corpo e para a alma, razão
de eu ter escolhido as últimas horas das tardes do Outono para fazer minhas
caminhadas naquela trilha formada por um longo corredor situado as margens de
um lago em que cisnes vogavam exibindo uma aparente soberba.
As laterais desse corredor, ainda hoje, são
constituídas por frondosos Plátanos que, neste período do ano, deixam suas
folhas exibirem um degradê nas cores que variam: do verde já esmaecido junto aos talos, passando pelos tons de laranja e vermelho, culminando no
amarelo doirado, tonalidades acentuadas pelos raios do sol: os diretos que
penetram pelo poente do corredor e os indiretos que, entrelaçados entre folhas
doiradas, se refletem num esplendor divino!...
Para realçar ainda mais a beleza desse
conjunto, acrescente-se que esses raios ao entrelaçarem-se entre as copas das
árvores, fazem com que seus feixes de luz criem um belíssimo efeito sobre os
matizes das folhas ainda não caídas e das que formam um tapete doirado no chão
por onde, absorto em meus pensamentos contraditórios, caminhava naquele
longínquo momento e onde me encontro agora...
Delmar Fontoura
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