Ó Camões! Como tu és, em
tua eternidade, responsável por teres glorificado em loas só virtudes lusitanas
que aqui não chegaram. Trouxeram-nos, sim, em Naus Caravelas embarcadas por
ratazanas, só “nevoa, sujo-escuro, suja”, que de certo já se fazia notar no
Castelo de Belmonte, terra de Cabral em Beira Baixa!...
Pois
foram de Cabral essas
Naus
Caravelas, que,
da
gênese vindas, trouxeram,
de
lusitanas terras onde concebidas,
que
geraram as aqui nascidas e crescidas
e dessas crescidas, as mal nascidas,
nevoas,
sujo-escuro, sujas!... ...Agora:
são as...
“Ondas e o Mar” de Caymmi,
que
sem o Mestre se contradizem,
as
Ondas que morrem em "marolinha",
e o
Mar que não lava mais das praias
a
nevoa, sujo-escuro, suja!...
São os...
“Tempo e o Vento” de Veríssimo,
“Tempo e o Vento” de Veríssimo,
que sem o Mestre se
contradizem,
o Tempo, que ao passar não
apaga
e o Vento, que não sopra pra
longe
a nevoa, sujo-escuro,
suja!...
são...
Versos dispersos sem
Drummod;
letras sem rimas de Vinicius;
melodias sem o “tom” de
Jobim;
letras e melodias sem a voz
de Elis;
verdades não ditas nas
letras de Roberto;
“encaracolados de Caetano”
que se alisam;
“línguas soltas” de Gilberto
que se travam;
os sentidos figurados que já
não figuram,
que sem os mestres se
contradizem,
pois que os ausentes nada
podem e
os indiferentes se dignam
com
a nevoa, sujo-escuro,
suja!...
São as saudades...
Da coragem atrevida, mas
sábia de Ulisses;
Dos acomodados bastidores de
Tancredo;
Dos arroubos consequentes de
Brizola;
Daqueles gritos de Diretas
Já;
Daqueles guris com Caras Pintadas;
Daqueles gritos de decência
já;
Da civilidade de verde e
amarelo;
È só nevoa, sujo-escuro,
suja!...
Da...
Da...
Triste contradição dos
tempos...
De lembranças tristes... ...aquele!
Pior? Não sei, mas com
esperança.
E a constatação triste... ...deste!
Pior? Com certeza, pois, sem
esperança,
É só nevoa, sujo-escuro,
suja!...
Que saudade, agora, sem os
Mestres.
Sem aquele desarmamento de
espírito e
o ensarilhamento de armas
nos quartéis.
Sem o, embora tardio, mas
nobre reconhecimento do
erro.
Oh! Nevoa, sujo-escuro,
suja!...
Agora é a vez dos “vermes”
se
banquetearem com o que jaz,
inerte, impotente, indefeso;
sem as sábias vozes e
letras.
Agônico! Este é o meu País.
Oh! Nevoa, sujo-escuro,
suja!...
É a gênese lusitana
confirmando
O meio entre o princípio e o
agora
Da nevoa, sujo-escuro,
suja!...
Delmar Fontoura.
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