segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Gênese em Prosa e Verso.


                                                             A Gênese

Em Prosa:  

Ó Camões! Como tu és, em tua eternidade, responsável por teres glorificado em loas só virtudes lusitanas que aqui não chegaram. Trouxeram-nos, sim, em Naus Caravelas embarcadas por ratazanas, só nevoa sujo-escuro, suja, que de certo não se fazia notar no Castelo de Belmonte, terra de Cabral em Beira Baixa!...

Em Verso: 

Pois foram de Cabral essas
Naus Caravelas, que,
da gênese vindas, trouxeram,
de lusitanas terras onde concebidas
mais as aqui nascidas e crescidas e,
das crescidas, as mal nascidas,
só nevoas sujo-escuro, sujas!...


São as “Ondas e o Mar” de Caymmi,
que sem o Mestre se contradizem agora,
aquelas que morrem em "marolinha" e
o outro que não lava mais das praias
a nevoa sujo-escuro, suja!...


São o “Tempo e o Vento” de Veríssimo,
que sem o Mestre se contradizem agora,
o que ao passar não passa e apaga
e o que não sopra pra longe
a nevoa sujo-escuro, suja!...


São versos diversos sem Drummod;
são letras sem rimas de Vinicius;
são melodias sem o “tom” de Jobim;
são letras e melodias sem a voz de Elis;
são verdades não ditas nas letras de Roberto;
são “encaracolados de Caetano” que se alisam;
são “línguas soltas” de Gilberto que se travam,
São os sentidos figurados que já não figuram,
que agora sem os mestres se contradizem,
pois que os ausentes nada podem e
os indiferentes se dignam com
a nevoa sujo-escuro, suja!...


Triste contradição dos tempos...
De lembranças tristes... aquele!...
Pior? Não sei, mas com esperança .
E a constatação triste... deste!...
Pior? Com certeza, pois, sem esperança,
é nevoa sujo-escuro, suja!...


Que saudade da coragem atrevida, mas sábia de Ulisses.
Que saudade dos acomodados bastidores de Tancredo.
Que saudade das inconsequências de Brizola.
Que saudade dos gritos de Diretas Já.
Que saudade daqueles guris Caras-Pintadas.
Faltam agora os gritos de decência já.
Falta civilidade pintada de verde e de amarelo.
Oh! Nevoa sujo-escuro,  suja!...


Que saudade, agora, sem os Mestres.
Sem aquele desarmamento de espírito.
Sem ensarilhamento de armas nos quartéis.
Sem o nobre reconhecimento do erro.
Oh! Nevoa sujo-escuro, suja!...


Agora é a vez dos “vermes” se
banquetearem com o que jaz,
inerte, impotente, indefeso;
sem as sábias vozes e letras.
Agônico! este é o meu País.
Oh! Nevoa sujo-escuro, suja!...


É a gênese lusitana confirmando
O meio entre o princípio e o agora
Da nevoa sujo-escuro, suja!...


Delmar Fontoura.




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