sexta-feira, 5 de julho de 2013

As Bougainvílleas...

O Parque das Bougainvílleas...
 
 De um diário: 
 
Hoje o dia amanheceu triste prolongando o breu de mais uma noite insone. O frio e a chuva, arrastados pelo vento próprio dos primeiros dias dos invernos do Sul, enregelam-me corpo e alma... 
 
Tomei a irremediável e triste decisão de não mais voltar ao parque... ...forçado, que fui, pela necessidade de poupar energia para que este coração continue batendo, me submetendo, junto com a esperança, ao jugo do tempo, que, insistente, aos poucos apaga meus passados: um perfeito, outro mais que perfeito, que a muito se foram, ao mesmo tempo em que me submeto a este tempo imperfeito, que se prolonga e morrerá comigo...  
 
Esperei!... ...Foram incontáveis anos após os meses do prazo que deste para voltar... Durante esse tempo vi as Bougainvílleas do parque brotarem e cobrirem de lilás o caramanchão sob o qual abrigávamos nossos momentos de amor e paixão; vi as folhas e flores de Bougainvíllea formarem um tapete sobre o chão onde caminhávamos com as mãos entrelaçadas e a passos lentos para que o tempo não passasse; vi essas mesmas folhas e flores secarem e, junto com minha dor, rolarem ao leo assoladas pelos fortes ventos durante os tristes invernos de minha espera... 
 
Vi, nos invernos da vida que vivi para te esperar, o tempo que nos separava só aumentar a cada minuto, que, contado por mim, passava... ...Sofri mais, sofri menos e meus sentimentos, junto com as secas folhas e flores de Bougainviílea, esvoaçaram ao vento... ...e a cada instante desse tempo senti uma dor diferente para suportar a espera... ...mesmo assim este único e imenso amor, que te dediquei, não feneceu!...  
 
Mas já antevejo que estão chegando os fortes ventos trazidos pelos meus últimos invernos... ...Agora terei pouco tempo para, olhando através da janela, ouvi-los, como fantasmas impiedosos, avisando-me que estão levando pra longe as flores e folhas de Bougainvíllea junto com minhas esperança e energia!...  
 
Meus corpo e alma, mesmo corroídos pela desilusão, pelo vento e pelo tempo aos quais se expuseram a tua espera, se mantêm fieis a esse amor... ...Nesse tempo meu coração só teve força para pulsar na esperança de que voltarias, embora a razão me dissesse o contrário. Mas a razão desconhece os secretos cantinhos dos corações apaixonados e deste, que um dia, já bem próximo, quando parar para descansar, deverá ser coberto por Bougainvílleas lilases!...
 
Delmar Fontoura 
 

Um comentário:

  1. Márcia Barcellos da Cunha9 de julho de 2013 às 18:34

    Espetacular! Parece a entrada do paraíso...Obrigada. Márcia

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