O Parque das Bougainvílleas... |
De
um diário:
Hoje o dia amanheceu triste prolongando o breu de mais uma
noite insone. O frio e a chuva, arrastados pelo vento próprio dos primeiros
dias dos invernos do Sul, enregelam-me corpo e alma...
Tomei a irremediável e triste decisão de
não mais voltar ao parque... ...forçado, que fui, pela necessidade de poupar
energia para que este coração continue batendo, me submetendo, junto com a
esperança, ao jugo do tempo, que, insistente, aos poucos apaga meus passados:
um perfeito, outro mais que perfeito, que a muito se foram, ao mesmo
tempo em que me submeto a este tempo imperfeito, que se prolonga e morrerá comigo...
Esperei!... ...Foram
incontáveis anos após os meses do prazo que deste para voltar... Durante esse
tempo vi as Bougainvílleas do parque brotarem e cobrirem de lilás o caramanchão
sob o qual abrigávamos nossos momentos de amor e paixão; vi as folhas e flores
de Bougainvíllea formarem um tapete sobre o chão onde caminhávamos com as mãos
entrelaçadas e a passos lentos para que o tempo não passasse; vi essas mesmas
folhas e flores secarem e, junto com minha dor, rolarem ao leo assoladas pelos
fortes ventos durante os tristes invernos de minha espera...
Vi, nos invernos da vida que
vivi para te esperar, o tempo que nos separava só aumentar a cada minuto, que,
contado por mim, passava... ...Sofri mais, sofri menos e meus sentimentos,
junto com as secas folhas e flores de Bougainviílea, esvoaçaram ao vento...
...e a cada instante desse tempo senti uma dor diferente para suportar a
espera... ...mesmo assim este único e imenso amor, que te dediquei, não feneceu!...
Mas já antevejo que estão
chegando os fortes ventos trazidos pelos meus últimos invernos... ...Agora
terei pouco tempo para, olhando através da janela, ouvi-los, como fantasmas
impiedosos, avisando-me que estão levando pra longe as flores e folhas de
Bougainvíllea junto com minhas esperança e energia!...
Meus corpo e alma, mesmo
corroídos pela desilusão, pelo vento e pelo tempo aos quais se expuseram a tua
espera, se mantêm fieis a esse amor... ...Nesse tempo meu coração só teve força
para pulsar na esperança de que voltarias, embora a razão me dissesse o
contrário. Mas a razão desconhece os secretos cantinhos dos corações
apaixonados e deste, que um dia, já bem próximo, quando parar para descansar,
deverá ser coberto por Bougainvílleas lilases!...
Delmar Fontoura
Espetacular! Parece a entrada do paraíso...Obrigada. Márcia
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